sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Chocolate

- Vai um chocolate?
- Putz, me conta. E aí, como foi?
- Espetacular...
- Espetacular como? Conta tudo.
- Foi muito bom, tudo certo, cheguei, fui direto. Ela é experiente, foi facilitando, não tem essas coisas de menina nova, não perde tempo. Espetacular...
- Conta mais, conta mais...
- Linda, nem parece que tem trinta e cinco anos, ela me disse que tem trinta e cinco, e eu batuquei. Putz, não tem, não acreditei, é uma deusa. Espetacular...
- Que tal o beijo?
- Um sonho... Ela queria me encontrar de novo, me disse que me queria todos os dias, me deu a chave do apartamento e tudo. Isso, de primeira. Uma dama...
- E você vai, claro, né? Filma pra mim, na moral.
- Não dá.
- Como assim, não dá?
- Não dá, não dá. Não vou mais lá, não posso. Fica na tua.
- Por que isso agora?
- Depois que nós fizemos a segunda vez, eu, você sabe...
- Não sei, bicho, me fala... Conta tudo.
- Eu já estava no chuveiro. Não sei bem como aconteceu, acho que ela teve um ataque cardíaco, uma coisa assim. Não entendi bem. Ela teve um troço esquisito, falava de dor, sufoco, apertava o peito. Foi tudo muito rápido. Numa hora tava comigo, na outra hora, nem respirava. Ficou lá, dura...
- Morta?
- Acho...
- Não acredito...
- Tô te dizendo...
- E o que você fez?
- Vesti a roupa, corri o apartamento, procurei algo pra levar embora.
- Tinha coisa boa no apartamento?
- Tinha, tinha. Um DVD desses que gravam, comprado diretamente nos states, com instruções em inglês. Peguei também um dinheiro, pouca coisa, tinha dólar e real. Uns 10 mil. Ah, e esses chocolates, diz ela que são chocolates austríacos. Gostei de uma caixa de jóias, parecem bem caras. Passei para Cascão avaliar, ele acha que é tudo legítimo, vou lá mais tarde, uma grana boa...
- Muito bom. Vai fazer o quê com a grana? Lembra do seu amigo aqui, hein...
- Eu sei, eu sei, tô pensando. Vou te pagar o que devo, depois vou viajar...
- Show. Ela sofreu muito...
- Um pouco... Acho que morreu sem saber direito o que houve. Fiquei olhando sem saber o que fazer, depois fui embora com as coisas.
- Se desconfiam de você? Porteiro, segurança, foi filmado?
- Nada, ninguém me viu. Ela não me conhecia antes. Entrei e saí numa boa, convidado. Ela facilitou tudo, não queria que ninguém me visse, mulher casada. Foi tudo fácil.
- Boa de amor?
- Boa, boa toda. Uma pena. Dava um romance bom. Eu acho que apaixonava.
- E agora?
- Fazer o quê, tocar a vida. Viajar pra um lugar de praia, conhecer umas gatinhas cheirosas... Vou pra um lugar que nunca fui, tô pensando na Bahia.
- Boa.
- Vai um chocolate? É austríaco. Legítimo...
- Claro.

(Janeiro de 2008)

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